sexta-feira, 12 de março de 2010

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, `a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz (...)
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata de produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar-condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que o os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(COLASANTI, Marina. Eu sei, mas não devia – 1ª ed. RJ. Rocco, 1996)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Curso de Pós-Graduação em Literatura Infantil e Juvenil: Leitura e Ensino - Unigranrio


Estão abertas as inscrições para o Curso de Pós-Graduação em Literatura Infantil e Juvenil: Leitura e Ensino - Unigranrio.

Aulas no campus:

Unidade Barra da Tijuca - Início: 24/04/2010

Disciplinas e Corpo Docente:

1. Da literatura para a leitura do mundo: leitores e leituras (30h)
(Alessandra Pinheiro - Doutoranda em Educação)


2. O imaginário infantil, a brincadeira e a literatura (40h)
(Mariangela Almeida - Doutoranda em Educação)


3. A literatura infantil e juvenil: saberes (30h)
(Maisa Aleksandravicius - Mestra em Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa)


4. A ilustração no livro para crianças e jovens (30h)
(Alexandre Sá - Doutorando em Artes)


5. O humor na literatura infantil (40h)
(Cintia Barreto - Mestra em Literatura Brasileira)


6. África e figurações infanto-juvenis na literatura (40h)
(Robson Dutra - Doutor em Literatura Portuguesa com Pós-Doutorado na mesma área)


7. O índio na literatura infantil e juvenil brasileira (40h)
(Vera Kauss - Doutora em Ciência da Literatura)


8. A literatura infantil e Juvenil no espaço escolar (30h)
(Valéria Monção - Especialista em Arte-educação)


9. Literatura e outras linguagens (40h)
(Idemburgo Frazão - Doutor em Literatura Comparada)


10. Aspectos significativos da pesquisa na área de conhecimento do curso (15h)
(Cristina Novikoff - Doutora em Educação)


11. Técnicas de busca e tratamento da informação (15h)
(Cristina Novikoff - Doutora em Educação)


12. Técnicas de elaboração de relatórios (15h)
(Cristina Novikoff - Doutora em Educação)


13. Técnicas de reuniões e conclave (15h)
(Cristina Novikoff - Doutora em Educação)

Mais informações no site:

https://sga.unigranrio.edu.br/sga/Principal?alias=cursos_pos_insc_abertas