Danielle Kiffer
Fotos de Divulgação
|
Alunos do colégio estadual participam de festival de
cinema na escola: objetivo é educar e conscientizar |
Com a exibição de filmes sobre educação e cotidiano escolar, temas como racismo, homofobia, machismo e outras formas de preconceito foram discutidos entre estudantes do ensino médio do Colégio Estadual André Maurois (Ceam), localizado no Leblon, zona sul do Rio. “Vivemos em uma sociedade plural e é comum que diferentes correntes de pensamentos e culturas entrem em conflito. Contudo, para que haja respeito na aceitação e entendimento dessas diferenças, é preciso que os jovens sejam educados nessa perspectiva”, ressalta o professor. Além dos debates, foi criado um cineclube com 150 títulos para a escola, entre filmes e documentários, com catalogação detalhada sobre os temas abordados em cada película, para uso e escolha dos professores. O projeto recebeu recursos da FAPERJ por meio do edital Apoio à Melhoria do Ensino em Escolas Públicas Sediadas no Estado do Rio de Janeiro.
Durante a execução do projeto, foi realizado um festival de cinema no colégio. Por uma semana, foram exibidos 10 filmes e documentários: um pela manhã e um à tarde. Entre os títulos exibidos, estão: Escritores da Liberdade, filme norte-americano baseado em uma história real, que retrata o cotidiano de uma escola de um bairro pobre, dominada pela agressividade de seus alunos e descaso dos profissionais; porém, diante da atitude de uma professora recém-contratada, que inova nas formas de ensinar, aos poucos, os estudantes vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando mais o conhecimento, e reconhecendo valores como a tolerância e o respeito ao próximo; Pro dia nascer feliz, documentário brasileiro dirigido por João Jardim que mostra o retrato da educação no Brasil, exibindo depoimentos de adolescentes de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro que retratam a desigualdade social, a banalização da violência e a precariedade do ensino; e Meu nome é Radio: também uma história baseada em fatos reais, mostra a ascensão de um aluno negro com necessidades especiais graças ao apoio e dedicação de um professor. O auditório do colégio, que tem 2.400 alunos, recebeu por dia cerca de 100 a 200 estudantes, para exibição e debate sobre os filmes.
Antes da exibição dos filmes, Marcelo Andrade e sua equipe realizaram um trabalho de pesquisa entre os alunos do Ceam para saber como as formas de preconceito aconteciam no cotidiano dos estudantes. Para isso, uma parte do grupo de pesquisa da PUC-Rio ficou um tempo observando o dia-a-dia do colégio. “Como estudamos a educação, já tínhamos um material arquivado de observação do comportamento juvenil em outras escolas”, conta Marcelo. A partir dessa experiência, eles desenvolveram situações hipotéticas, inspiradas na realidade dos alunos, para que fossem tema de debate em grupo de estudantes de 16 a 18 anos.
Professores do Colégio Estadual André Maurois participam de oficina pedagógica promovida pela equipe da PUC-Rio |
Com o desenvolvimento da pesquisa, Marcelo percebeu que os jovens que participaram das entrevistas e debates não se furtaram a dar suas opiniões com o objetivo de resolver os problemas propostos. “Nenhum aluno teve opiniões ou respostas vazias. Todos contribuíram e mostraram disposição para resolver os problemas”, complementa Marcelo. Outro ponto observado foi que os jovens, talvez pela faixa etária, não confiam totalmente nos adultos. “Esse ponto mostra a importância do debate entre alunos e professores, para estreitar a relação entre adultos e adolescentes”, explica.
Para os professores do colégio, o grupo de pesquisa da PUC-Rio desenvolveu um curso de formação de 20 horas, para que o corpo docente do Ceam estivesse preparado para lidar com debates tão polêmicos. Os professores iam, aos sábados, discutir textos que abordavam temas sobre preconceitos. “Os professores se mostraram muito dedicados. O intercâmbio foi uma experiência rica tanto para nós quanto para eles”, orgulha-se Marcelo, que afirma que esse tipo de ação pode e deve ser realizada em outros colégios do País, das esferas pública e particular. “O machismo, a homofobia e o racismo, quer dizer, o preconceito de uma forma geral está tão enraizado em nosso cotidiano, que muitas vezes as pessoas agem de forma preconceituosa e não têm tanta consciência disso, principalmente crianças e adolescentes. O resultado positivo que tivemos no projeto nos mostra que a educação é uma forma importante de combater e eliminar, quem sabe, o preconceito da nossa sociedade”, conclui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário